quinta-feira, 26 de junho de 2008

O ISLA ao sabor da música


A música na rádio e na televisão foi discutida como um negócio de interesses, no Isla Gaia, na passada sexta-feira, naquela que foi a última palestra do Milénio da Comunicação.
Álvaro Costa e Júlio Montenegro deram a voz aos radialistas com gosto pela música e acabaram por ter a seu lado Diogo Carvalho e David Sousa, elementos da banda Sugarleaf. Os Sugarleaf são uma banda de Lisboa que nasceram para o mundo da música há quase quatro anos, mas que ainda não é conhecida por todos, ao invés dos profissionais da comunicação de rádio que há décadas que travam uma luta com as playlists.
Álvaro Costa revelou duas perspectivas advindas do início do século passado que assentam na ideia que a rádio “coloca em perigo as tornés e o mercado das pautas de música”, além disso, faz aparecer aqueles a que podemos denominar como “espiões do negócio” que não são mais do que “aqueles que não oferecem resistência e se contentam em banhar-se da música por mera diversão” que vêm no decorrer da rádio como “uma espécie de ladrão sem vergonha”. O radialista da Antena 3 chama a atenção que não é só em relação à rádio que se pode enunciar tais pareceres, pois se transportarmos para o século XXI e substituirmos rádio pelas tecnologias digitais “estamos a falar da mesma coisa”.


A realidade que nos acerca é que sofreu e tem vindo a sofrer constantes mutações e isso verifica-se, conforme salienta Júlio Montenegro, pelo facto de que “música e rádio foram duas coisas indissociáveis durante algumas décadas até que apareceu a canção «Vídeo kill the radio star» e a música, a partir daí, divorciou-se um pouco da rádio e menosprezou a terra”. E ao falar em música Júlio Montenegro evoca a indústria envolvente. Os músicos começaram a direccionar-se para as potencialidades da imagem só que muitos deles acabaram por “perder porque não chegavam ao vídeo nem à divulgação do vídeo”, realça.


Daniel Catalão, moderador do painel, acabou por ir buscar uma realidade que é a de que gravar um suporte físico, em outros tempos, era muito difícil e a tecnologia acabou por facilitar essa tarefa, um aspecto que David Sousa acaba por assumir, todavia se existe esse pró, também se evidencia o contra de “chegar ao mercado”.

“Há um monopólio que é muito grande e, hoje em dia, assistimos a verdadeiras injecções daquilo que se quer vender”, enfatiza o músico, e as repercussões acabam por culminar na escolha do público por entre as editoras “que mexem muito nas playlists de rádio e são, sem dúvida, as maiores condicionantes”.


Estamos perante um cenário em que “a rádio esqueceu os paradigmas que a fez sentir alicerçada, que a fez sentir, realmente, que havia uma razão para evoluir e para continuar a trabalhar”, como revela Diogo Carvalho, e o dar algo de novo e investir na criatividade podem ser soluções para voltarmos à rádio de todos.
O contrasenso instala-se quando Diogo projecta a ideia de se exibir um programa em horário nobre “que dê a oportunidade às bandas de tocar ao vivo” no qual, a título de exemplo, “se faça uma votação em directo, tal como nas telenovelas ou no telejornal, e se pergunte o que o público quer”. Álvaro Costa não vê esse exemplo como viável ainda que sejam “interessantes do ponto de vista do artista, mas são impensáveis sob o ponto de vista do negócio”, até porque “ouvir as pessoas é inútil no sentido em que há um excesso de marketing”. Uma técnica perecível para o radialista que Diogo analisa como uma solução possível para uma linguagem da rádio com o intuito de “trazer novidade e trazer novos conteúdos”.


A quota da música nacional nas rádios tem sido um ponto a favor das bandas portuguesas, mas, ao mesmo tempo, as coisas podem não ser assim tão eficazes. Como David Sousa menciona as rádios nacionais queixam-se de não terem música nacional para difundir; no entanto, o que é verídico é que bandas como os Sugarleaf são portuguesas, independentemente de cantarem em inglês ou em qualquer outra língua, e não conseguem ter espaço nas emissoras. Esta é mais uma problemática que se tem vindo a debater que leva Álvaro Costa a dizer que “se as pessoas querem ganhar peso no mercado tem que ser em português”.


“A rádio tinha memória, agora deixou de haver memória na rádio”, evidencia David, porque “perdeu o intermediário e se perdeu a magia”, como complementa Júlio Montenegro; no entanto, não podemos descartar as outras oportunidades, desde que não nos aprisionemos delas, como acentua Álvaro Costa. O que está em causa não é a crise da música, mas sim “o negócio da produção/gravação da música”, confessa Álvaro Costa, e esta é uma realidade oriunda dos anos 79/80 quando “a geração se habituou um pouco à indústria discográfica como um asilo”; hoje, a capacidade criativa é cada vez maior – “existem mais de sete milhões de bandas no myspace” – por isso, o digital serve para “libertar as pessoas”. No entanto, como Daniel Catalão refere também faz com que nos sintamos, por vezes, perdidos e “a rádio e televisão acabavam por afunilar um leque que é tão vasto”.
A rádio tornou-se “um formato, um produto e acho que um serviço, ao mesmo tempo”, confessa o radialista, e o “encanto pelo digital” não a extingue, apenas abre outras esferas, como a on-line. E, de acordo com o raciocínio de Diogo, “se as rádios on-line representarem dinheiro, essas rádios também vão poder pagar a radialistas de novo e vão também poder fazer negócio”, podendo aqui ter que ver “com a importância que o mundo anglo-saxónico dá à rádio” como afirma Álvaro Costa.

entre o público os restantes membros da banda Sugarleaf

Tudo gira em torno de interesses e de negócios que preencham um monopólio de combinações e a “rádio tornou-se num suporte da música no sentido da playlist. A ditadura, o formato a isso facilitou e, então, desaparece o encenador da rádio, o intimista, aquele que fazia de intermediário entre as virtualidades da música e o consumidor, e passou a desaparecer esse teatro da rádio que desvirtuou a linguagem resultado das virtualidades das músicas e tudo passou a ser ditado de fora para dentro e a rádio tornou-se um suporte da gigantesca playlist”, elucida Júlio Montenegro, ordenações ou ordens que ditam as músicas que vão poder ser ouvidas, cuja consequência foi fazerem “com que a rádio perdesse a alma”.
A preocupação para as bandas nacionais já não assenta em pilares como os que David seguiu aquando dos primórdios da sua carreira, que consistiam na composição “de uma obra válida”, agora, ao invés de outrora, tudo está direccionado para o lucro e para as concepções artificiais que colocam a qualidade “num patamar que já ninguém sabe”.
A formulação com que ficamos é que é fulcral encontrar “razões para continuar a agarrar nisto de uma forma sustentável”, pegando nas palavras de Diogo, sem que se tenham de escravizar os profissionais de rádio – evocados por Daniel Catalão e por Júlio Montenegro –, sem que as audiências sejam uma constante prevalência e sem que a comunicação de hoje seja conhecida por aquela que está “assente na droga, no sexo e na tragédia, porque isto é o que se vende”, como ressalta Júlio Montenegro.
Por entre a música popular, a música mais roqueira, chegando mesmo ao fado de Marisa ou, no outro lado do oceano, a Benny Goodman, verdade é o que David Sousa frisou “a música é uma coisa universal que não tem que ter língua, nem nada que a tenha que catalogar. É uma arte e, por ser arte, pode-se espraiar por todos os meios”.

David Sousa (Sugarleaf)


Júlio Montenegro (ex-radialista Antena 1)

Álvaro Costa (Antena 3)



Diogo Carvalho (Sugarleaf)


Anabela da Silva Maganinho

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Última palestra: a música e os media

Álvaro Costa

Tozé (Blunder/Per7ume)

Daniel Catalão


Sugarleaf (Tiago, Samuel, Diogo, David)

A última palestra do "Milénio da Comunicação" vai ter lugar na faculdade de sempre (ISLA Gaia), no esaço de sempre (auditório 1), mas a iniciativa vai ser diferente.

Penso que pela primeira vez vamos ter a actuação, na faculdade, de uma banda e das melhores ao nível do espectro nacional: os Sugarleaf.

Mas antes disso... a palestra, moderada pelo docente e jornalista Daniel Catalão, vai ter como tema a música na rádio e na televisão. Como convidados vamos ter:

Álvaro Costa, da RDP, que vai mostrar a sua visão como radialista dos nossos dias;

Júlio Montenegro, também ele profissional da RDP, que vai contar como era a música na rádio no século passado (XX);

e depois contaremos com duas bandas:

Tozé, do Porto, vocalista dos Blunder (com mais de 10 anos de existência) e dos Per7ume (que nasceram este ano) retratará as bandas no Norte;

Sugarleaf, por David Sousa ou Diogo Carvalho, darão a voz pelas bandas de Lisboa como banda que nasceu em 2004 e este ano começa a dar a conhecer o seu trabalho.

A palestra terá início pelas 16horas e, depois disso, segue-se a actuação dos Sugarleaf num showcase que não podem perder.


Todo o «universo ISLA» está convidado. Espero contar com as vossas presenças.

sábado, 26 de abril de 2008

Comunicação pertencente ao comunicador

Leonardo Júnior e João Malheiro

João Malheiro falou sobre jornalismo e sobre a direcção de Comunicação do Benfica, fazendo uma breve trajectória pela assessoria, numa palestra do Milénio da Comunicação que decorreu no passado dia 17, no ISLA Gaia.
O comunicador começou por, subsequentemente à apresentação exposta por Leonardo Júnior (docente do instituto), referir que “há quem diga que o excesso de modéstia é a maior expressão de vaidade e, dessa forma, por aquilo que eu vou dizer corro o risco que me interpretem dessa forma”. Efectivamente, estamos a falar de um profissional que é considerado “dos últimos jornalistas sem curso”, de acordo com o mesmo, tendo-se licenciado em História. Certo de que a grande maioria dos presentes terão como imagem mais forte aquela aquando da ocupação do cargo de director de comunicação do Benfica, João Malheiro encetou o discurso informal por essa actividade - para muitos desconhecida - de director de comunicação, um cargo que compreendia “tarefas políticas e não me limitava às tarefas técnicas". "Com todo o respeito para os colegas que têm essa actividade, eu jamais aceitaria ir para o Benfica e sair da TSF, onde estava, para abrir e fechar a porta aos jornalistas ou para ligar a avisar a que horas era a conferência de imprensa”, confessa o profissional. Abertamente, João Malheiro não teme afirmar: “antes de mim não havia directores de comunicação, depois de mim não há directores de comunicação”. O que o profissional compreende por director de comunicação envolve uma pessoa que comunica, o que não quer dizer que seja aquela que manda e, por isso, explica que “o que se nota é que o futebol é uma realidade muito específica, na nossa sociedade. Normalmente, [os dirigentes de clubes de futebol] são patos bravos, normalmente são pessoas que fizeram dinheiro fácil e não estou a dizer ilegalmente” e daí que suscite o raciocínio erróneo de que quem fala é que é importante, “quem manda e não há base de sustentação cultural – que permita a determinados presidentes que o melhor que têm a fazer é estar calados e alguns nunca deviam abrir a boca – para deixar falar quem sabe comunicar”, revela.
“Toda a comunicação do clube era feita por mim, a não ser aquela que obrigasse à presença do presidente do clube”, lembra o ex-director de comunicação, “fazia toda a comunicação quer em nome do futebol, quer em nome da direcção ou do conselho de administração da SAD”. João Malheiro enfatiza o facto de estarmos a viver sob uma “cultura tripartida desportivamente falando” e, por isso, aquando das actividades ao serviço do Benfica foi “inovador neste país com a elaboração de um briefing diário com a comunicação social. Todos os dias eu dava a voz e a cara”. As vantagens que acarretava para os jornalistas situavam-se no sentido de evitar a busca pela informação, sem terem de especular ou tentar saber o que se passava. Com presença em todas as reuniões da direcção, segundo o próprio, João Malheiro certificava-se de que a imagem do clube, que era ele, porta-voz, director de comunicação, “conhecesse a fundo toda a vida do clube”. Presentemente, essa realidade não lhe parece viável ao dizer: “não me parece que os directores de comunicação estejam lá”.


O assessor de imprensa “por norma, debita linguagem técnica. Há uma conferência de imprensa que a direcção decide dar e ele liga para as redacções a convocar. Está lá mas abre a porta aos jornalistas, quando é um bocadinho atrevido senta-se no cantinho da mesa e diz «podem começar» e, no final, diz «obrigado». Vê os dossiers do dia, tudo o que diz respeito, despacha para os diferentes gabinetes a matéria temática, mas não tem visibilidade. Este é o assessor de imprensa”. Para efectivar tais competências o comunicador confessa que “eu nunca aceitaria ir para o Benfica fazer isto. Podiam-me pagar o dobro eu não ia”. Isso não era aquilo que estava disposto a fazer e dentro das competências que executava o principal desafio ao serviço do clube da Luz traduziu-se no facto de nunca ter pensado“marcar tanto a sociedade portuguesa e marca-la negativamente em certo sentido”, revela.
À parte de clubismos ou de resultados, tendo em conta que estávamos em véspera do clássico Porto-Benfica e no rescaldo do derby lisboeta com o Sporting, a “falta de nível, de classe é assustadora” para João Malheiro, na altura em que se colocaram na mesa as afirmações proferidas por Pinto da Costa durante a semana.


A garra de João Malheiro advém de muito antes da época de faculdade, ainda que tenha sido nesse percurso que começou a dar os primeiros passos no jornalismo: tinha-se fundado o “único diário desportivo em Portugal, o jornal O Jogo aqui no Porto, na altura, pertencia à empresa Jornal de Notícias e eu comecei a fazer umas coisas, a pedido de umas pessoas, sobre o Rio Ave, sobre Vila do Conde”, recorda. Afirmou-se na redacção do jornal na década de 80 e fez a incursão pela rádio. “Fundou-se uma cooperativa de jornalistas daqui do Norte, que eu integrei juntamente com Manuel Dias, Rui Lima Jorge, entre outros bons jornalistas com grande experiência da rádio e do audiovisual” e foi não muito tempo depois que surgiu o convite para a RTP. Portanto, João Malheiro efectivou nas três vertentes da comunicação social ao mesmo tempo: a escrita, a radiofónica e, não obstante, a audiovisual. Uma afirmação surte por entre o discurso “sou tanto mais feliz quanto mais registos abarcar”, declara.
No que concerne ao jornalismo “não há jornalismo mau e jornalismo bom, não há registo aceitável e registo inaceitável, há é bons ou maus jornalistas há boas ou más matérias”, de acordo com o entendimento pessoal, “ e seja qual for o tema tudo é possível”. Pela televisão, já fez uma breve incursão pela crónica policial, na SIC, e é essa versatilidade de ingressar por projectos distintos que lhe dá “satisfação e procuro emprestar alguma qualidade, exercer alguma pedagogia nas abordagens e ter também um cariz interventivo”. A posteriori, no jornalismo social confessa ter hesitado, numa fase inicial, tendo em conta o passado. Por entre «intelectualites agudas» e saberes mais entendidos acabou por aceitar a opinião daqueles que, realmente, fazem algum sentido no espectro que acerca o território nacional. E ser jornalista é “ter a mente muito aberta e tentar perceber tudo”, por isso é que João Malheiro reflectiu sobre o fenómeno relativo à venda das revistas cor-de-rosa e não apenas essas, visto que se evidencia a “preocupação que jornais e jornais de referência têm em incluir os chamados assuntos sociais nas suas páginas, porque de outra forma as vendas seriam manifestamente inferiores”, salienta.


No decorrer da conversa, a carteira de jornalista, abordada com Afonso de Melo, voltou a ser o tema que envolveu alguma polémica, no entanto, a resposta precisa despoletou de imediato “eu e o Afonso de Melo até somos concorrentes a vários níveis, mas devo dizer que mal o país que pode prescindir de um talento como o Afonso e, portanto, não atribuir a carteira profissional ao Afonso de Melo, porque durante um ano não colaborou neste ou naquele jornal, acho uma fantochada de todo o tamanho” e continua “é uma obrigação, é um prestigio para a classe que o Afonso de Melo tenha a carteira profissional”. Deparado com um espectro de bons profissionais que não têm carteira e de maus profissionais detentores da mesma, o que não quer dizer que se esteja a fazer uma generalização, a carteira é, para este profissional, “um bluf, pois há que de uma forma muito clara perceber quem pode, quem não pode, sobretudo, quem faz bem e quem faz mal. O Afonso de Melo onde se mete faz as coisas bem feitas”, certifica, e aqui fica a mensagem “o Afonso de Melo, que fique claro, é um talento e é uma pessoa com uma cultura acima da média, e faz falta ao jornalismo. Não é um documento que o vai habilitar ou deixar de habilitar para fazer aquilo que ele melhor sabe e que todos nós esperamos que venha a fazer: que é jornalismo”.
A candidatura à Presidência de Manuel Alegre constitui outro dos marcos que João Malheiro vincou e confessa que achou graça perceber que o país o conhece bem, mais na vertente futebolística. Essa que “foi das experiências mais gratificantes que tive na minha vida” permitiu-lhe “compreender melhor um bocadinho o país, as necessidades do país, as aspirações profundas do nosso povo”.

Como Leonardo Júnior sintetizou João Malheiro “formou-se no trabalho mesmo, não tem curso de jornalismo feito, o que não quer dizer que não seja um dos jornalistas de referência daqui de Portugal. O jornalismo também é isto é as pessoas quererem ser aquilo que querem mas conquistando o lugar que podem um dia vir a ocupar”. Repartido entre Lisboa e o Norte do país, confessa que ainda que a sua paixão se volte a Norte, “adora Lisboa e, relativamente, a jornalismo Lisboa oferece outras condições. Em Lisboa aprende-se muito, num ano aprende-se o que aqui se aprende em dois três ou quem sabe quatro anos”, atenta.


Para o Euro 2008 ficam as dúvidas na previsão ainda que sustente a afirmação “continuamos a ter um grupo poderoso” com Cristiano Ronaldo acrescido “temos um jogador que de facto é uma coisa de outro mundo e isso é um motivo de grande orgulho para nós. Quem tem Cristiano Ronaldo tem razões acrescidas para acreditar no sucesso”, aponta.
As perspectivas futuras deixam-se a marinar até porque “já fiz muita coisa e não faço ideia do que vou fazer nem me preocupa e, sobretudo, estou-me completamente a marimbar para aquilo que os outros dizem”.
Com objectivos concretizados, uma paixão pelo Norte e pela Luz, João Malheiro permanece como um marco no espectro nacional e “quem comenta não perde, porque não toma decisões”, mas este comunicador não perde, porque a derrota não integra o vocabulário dissemelhante das conquistas profissionais da sua vida.

Anabela da Silva Maganinho

Afonso de Melo mostra a transparência na (in)formação


Afonso de Melo e Artur Villares, docente do ISLA

Afonso de Melo marcou presença, no ISLA Gaia, numa palestra sobre jornalismo e assessoria, que se realizou no passado dia 16,em que ficamos com a ideia de que “quando escrevemos há qualquer coisa que temos de transmitir a quem nos lê”.
A apresentação ficou a cargo de Artur Villares ao enfatizar que Afonso nasceu no Porto e que, ainda que tenha concluído o curso de direito, o vasto percurso curricular de Afonso encetou pelo jornalismo.

Afonso começou por dizer que é um orgulho ter tido o prazer de “poder trabalhar com grandes figuras do jornalismo e que, de facto, tinham uma visão da forma como se comunicava que, hoje, mudou completamente”. Uma perspectiva que podia ter como receptor um passarinho, tal como evocava Castelar Carvalho, desde que se tenha a consciência de que “sem encontrar uma capacidade para atingir aquilo que é a emoção não era possível fazer jornalismo”, advoga Afonso de Melo. Afonso mostra-nos duas distinções daquele que é o jornalismo actual que envolve, não raras vezes, a «opinião» dos factos. Numa primeira instância, de acordo com Afonso de Melo, quando estamos num lugar temos de nos sentir como os olhos, os ouvidos e até o nariz daqueles que não estão no acontecimento e aí “uma coisa é querermos escrever com emoção no sentido de um jornalismo que nos faça chegar às pessoas, que faça as pessoas sentirem algo com aquilo que escrevemos; outra coisa é transformarmos o que escrevemos no centro do acontecimento”. Neste sentido presenciamos o avanço da opinião que não deve estar inserida na descrição dos factos.
Do jornalismo à assessoria recordo que Afonso de Melo foi assessor de imprensa da selecção nacional de futebol e essa função “foi útil para distinguir aquilo que pode tocar pessoalmente as pessoas que lêem e naquilo que deve ser a transparência da pessoa que escreve para a pessoa que lê ou é visada naquilo que escreve”, assevera. Ainda que não seja uma função entusiasmante e não se traduza na verdadeira paixão profissional do jornalista, Afonso lembra que “teve a vantagem” até porque “a selecção ganhava mais do que perdia”. Para Afonso não é necessário ser um bom jornalista para se conseguir um bom assessor até porque “o assessor vive um bocado no meio de dois mundos e tem a dificuldade ou a impossibilidade de agradar aos dois [instituição e jornalistas]; todavia, uma das obrigações do assessor consiste em “criar condições para que os jornalistas desenvolvam o seu trabalho” e termos sido jornalistas, a priori, “dá-nos a capacidade de percebermos aquilo que os jornalistas precisam para o seu trabalho”, esclarece. O momento mais complicado, a cerca de nove meses do campeonato europeu, foi dissipar o problema de comunicação que havia “entre a figura do Scolari e a imprensa e era necessário, de alguma forma, criar um ambiente mais tranquilo”, lembra Afonso.

O percurso de Afonso de Melo passou, numa primeira fase, pelo jornalismo político e só depois rumou ao jornalismo desportivo, Artur Villares inquiriu-o acerca das distinções que podemos atribuir aos vários géneros jornalísticos e Afonso respondeu que o jornalismo desportivo é aquele “que mexe com a emoção e, se calhar, também é um jornalismo mais difícil de mater o distanciamento perante as emoções”, confessa. Muitos podem pensar que há uma tendência por parte dos jornalistas, no que concerne ao desporto, para acabarem por «apoiar» mais determinada equipa e por isso podem ser apelidados de tendenciosos. Esta pode não ser uma situação totalmente errónea, mas Afonso deixou claro que não é simpatizante de qualquer clube a não ser o da terra. No entanto, não deixa de revelar que “num jogo de futebol dificilmente não consigo estar por um lado ou por o outro”, ou seja, muitas podem ser as razões, designadamente por uma equipa jogar melhor ou, ao invés, por uma formação ser mais frágil, podem ser causas quando as coisas são vividas ao minuto. Afonso não deixa de reflectir sobre a imparcialidade que é impossível, embora o que acontece, por vezes, é que “estamos a escrever uma coisa completamente banal, simples, a descrever um facto e, quem do outro lado lê, está convencido que estamos a descrever um facto que lhe é particularmente negativo quando não é negativo nem positivo é simplesmente um facto”, afirma. E, por isso, admite que “a imparcialidade é impossível o que não é impossível é a honestidade”.


Numa era em que a “carteira hoje objectivamente é um mito” coloca-se uma interrogação para quem entrega a carteira profissional do jornalista, sendo que após a assessoria voltar ao jornalismo acaba por ser “uma questão de consciência”. Subsequentemente a mais de 20 anos ao serviço do jornalismo, Afonso foi confrontado com uma situação no que concerne à carteira que poderia acontecer com um jornalista que dá os primeiros passos, nunca com uma pessoa que têm um currículo tão vasto. Se voltava a ser assessor Afonso confessa que teria de ser um projecto que o motivasse realmente, mas que, não há grandes probabilidades disso acontecer. Enquanto assessor esteve inserido num grupo em que bons tempos foram vividos; porém, “temos de perceber que o tempo passa e que as coisas não vão continuar a correr sempre bem. Que há de chegar a um ponto em que mais vale sair numa fase em que ficamos com saudades das coisas do que sair numa fase em que já estamos fartos delas. Se ainda estivesse ao serviço da selecção, aquando do murro de Scolari, “o assessor, o que pode dizer naquele momento é que Scolari não pode falar”, isto porque não pode justificar a atitude que outra pessoa tem. Com isto Afonso não quer criticar quem o substituiu, apenas pretende mostrar a forma como reagiria e o facto de Scolari não falar naquela noite poderia evitar “a repetição de discursos, algumas vezes contraditórios, porque o discurso do dia seguinte é bom, o discurso da noite é mau e, se estivéssemos ficado pelo discurso do dia seguinte as coisas seriam certamente mais fáceis”.
O que acontece não só no desporto como em algumas outras áreas é que “as fontes de informação começam a ser reduzidas” e quem trabalha para um meio de comunicação sabe que para obter informações, hoje em dia, tem de recorrer a assessores que apenas “nos transmitem uma versão dos factos”. Afonso atenta mesmo que “o que acontece é que o resto das fontes são tão fechadas, nalguns casos, que, muitos jornalistas, se calhar, depois não se dão ao trabalho de ir obter mais informações para construir a notícia e, então, acabam por não escrever uma notícia, mas por canalizar uma determinada versão dos factos ou, pelo menos, uma determinada coloração dos factos”.
Afonso de Melo enquanto assessor sempre deixou evidente “eu não sou fonte de informação”, o que não impede de saber que “há jornalistas que estão, absolutamente, conotados com as fontes de informação” e esse “é um dos grandes perigos da profissão de jornalista.
Numa conversa informal, conseguimos saber um pouco mais da assessoria e deste ex-assessor que declara a paixão pela escrita e pelo jornalismo de redacção em que o mediatismo não está patente, mas sim a honestidade e o relato dos factos do quotidiano directamente ao leitor.

Anabela da Silva Maganinho

domingo, 20 de abril de 2008

Júlio Magalhães pelo repórter nos desafios da televisão


Daniel Catalão e Júlio Magalhães

Júlio Magalhães foi, no passado dia 9, o protagonista no painel sobre a televisão do “Milénio da Comunicação”, numa discussão informal em que se frisou que ser jornalista é ser repórter e que a televisão privada vive das audiências.
Com Daniel Catalão, nas intervenções complementares, conseguimos não apenas ter a perspectiva da Televisão Independente, mas também da estação pública (RTP/RTPN).
Júlio Magalhães iniciou o trajecto profissional n’ “O Comércio do Porto” e, tal como Daniel Catalão proferiu, é relevante “percebermos onde é que as pessoas começam, porque, muitas vezes, é fácil olhar para as pessoas na televisão já feitas”. Consciente da realidade que acerca o Porto, Júlio Magalhães elucidou os presentes com uma ideia que, não raras vezes, se concebe: “quem trabalha no Porto tem uma noção diferente do país. Tenho ido a muitos lugares para falar de televisão e nunca recuso, porque as pessoas que trabalham em Lisboa, que são as mais apelativas para toda a gente, não vão a lado nenhum. Acham que o país se resume a Lisboa e quem está no Porto percebe que está em desvantagem e que o resto do país ainda está em maior desvantagem em relação a Lisboa e ao Porto”, reflecte o jornalista.
Numa altura em que “vivemos na era da imagem” muitas pessoas que escolhem o curso de comunicação social fazem-no com a ideia de que esta se circunscreve ao espectro audiovisual e vão “iludidas com o modo como a televisão, hoje, dá espaço e visibilidade às pessoas”, advoga, “escolhem jornalismo não por vocação, não por gostarem, mas porque aparece na televisão”. Esta ideia que transmite no pivô a ideia de jornalista é errónea, de acordo com o profissional da televisão, visto que “ser jornalista não é ser pivô de informação. Ser pivô de informação é só uma variante do jornalismo que nem sequer é a mais importante e a mais motivadora. Ser jornalista é ser repórter”. Para Júlio Magalhães o jornalista “é aquele que anda no terreno, conhece as histórias, conhece as pessoas, que faz reportagem e que conta a histórias das pessoas” e só assim se consegue ser um bom pivô de informação.
A «era da imagem» implica a concorrência e o combate pelas audiências. As televisões trabalham para as audiências e “a TVI trabalha para ter mais audiências”, revela. Como estação privada “tem de ter audiências para ter retorno comercial, para ter publicidade”, até porque se esta não for extraída a estação não se sustenta. Daí que a programação e a informação se oriente consoante as audiências e para as audiências, pois, como salienta Júlio Magalhães “quanto mais público melhor”. Conduzida por estratégias de comunicação, que têm por objectivo captar a atenção dos telespectadores, a TVI passou por várias fases até chegar à televisão que encontramos nos nossos dias. Questões de horário nobre, formas de estruturar a redacção de modo a «chamar gente», designadamente pelos reality shows e pela ficção nacional, culminaram na informação que podemos encontrar no canal quatro generalista.
No entanto, ainda que o público comande a programação ou, pelo menos, se crie essa ilusão, a verdade é que “quem está em casa é que tem de ter a capacidade de dominar a televisão e não de ser dominado por ela”, patenteia Júlio Magalhães, só que essa ideia é, de certa forma, remota no sentido em que “a maioria das pessoas ainda não tem essa capacidade, vai tendo”.
Nesta sequência conseguida entre programação e público, na qual se encontra o jornalista a cargo da intermediação, a estratégia está envolta e “condiciona e tem influência naquilo que é o jornalismo hoje em dia, mas não interfere naquilo que é o profissionalismo e a ética do jornalista”, enfatiza o profissional. Por outras palavras, existem estratégias empresariais e as pessoas que lá trabalham apenas têm de se adaptar “sem com isso violarem aqueles que são os princípios básicos [pessoais]”.
Quase no término da oratória, Júlio Magalhães acaba por confessar que após a apresentação do jornal sente um vazio enorme, pois, como Daniel Catalão comunica, “a única coisa que o pivô faz é vender”. E isso tem como causa o facto de não ser ele a elaborar aquelas reportagens, «limitando-se» apenas a transmiti-las. Contudo, ambos os comunicadores têm a noção de que “o pivô de informação é o vértice da redacção e daí a importância de a valorizar”.
Numa televisão em que o directo é uma fase importante do discurso jornalístico e em que programação e informação estão dependentes uma da outra, o futuro passa por televisões digitais e por novos canais que vão trazer mutações à estrutura actual. Com as oportunidades que a Internet proporciona, até mesmo pela possibilidade de escolha, as pessoas podem seleccionar o que querem ver. Desse modo, “os canais generalistas vão perdendo esta influência [que têm presentemente]; os jornais não vão ser iguais na forma como são feitos; e mesmo os pivôs de informação vão perder, claramente, influência”.
Com um painel dinâmico não só pelo debate de ideias como também pela condução das mesmas estenderam-se sobre a mesa os conceitos, os casos, mas, acima de tudo, a prática jornalística e os desafios prospectáveis numa era em que “o que vai valer é a especificidade da informação e, sobretudo, a imagem e a informação transmitida em reportagem”.

Anabela da Silva Maganinho

quarta-feira, 16 de abril de 2008

João Malheiro por entre a comunicação

João Malheiro vai estar presente, amanhã, no ISLA GAIA, para mais uma palestra relacionada com a Comunicação. O ex-director de Comunicação do Sport Lisboa e Benfica vai partilhar a sua experiência ao serviço do clube da Luz, não obstante, à abordagem acerca da sua passagem pelo jornalismo.

Repartido entre Lisboa e Vila do Conde, sem nunca negar as origens, João Malheiro assinalou a presença em jornais (O jogo) , rádios (Rádio Clube do Porto, Rádio Comercial, RDP/Antena1 e TSF) e televisões nacionais (RTP). O percurso deste profissional da Comunicação, licenciado em História, passou pelo Benfica de 2000 a 2003.

Por entre obras e por premiações, João Malheiro conta, actualmente, com o protagonismo no programa televisivo "Contacto", a ser transmitido pela SIC.



Para além do comunicador, encontramos João Malheiro o escritor e apresento algumas obras de destaque:


Eusébio - A minha história

As estrelas

Centenário do Benfica

Memorial Benfica

A idade da bola

Benfica 100 momentos

terça-feira, 15 de abril de 2008

Afonso de Melo com o jornalismo na passagem pela assessoria


Afonso de Melo vai estar amanhã, no Isla Gaia, numa palestra da iniciativa "Milénio da Comunicação, para falar um pouco do percurso enquanto jornalista e das funções que ocupou ao serviço da selecção nacional de futebol.

Afonso apesar de ter concluído o curso de direito enveredou pelo jornalismo. Os primeiros passos podemos identificar na Soberania do Povo ou no Semanário, tendo, a posteriori, sido redactor de O Século e de A Bola. O desporto perseguia a caminhada de Afonso tanto que acabou por ser editor de redacção de O Jogo e colaborou com o Record. O país vizinho também conheceu Afonso de Melo, designadamente o jornal "AS", do qual foi correspondente, mas não só... deixo apenas alguns nomes para os mais curiosos da trajectória jornalística internacional: jornal polaco Reczespospolita, revistas japonesas Soccer Hiyo e Sportiva2, France Football, o jornal de Calcutá Aajkaal. Mas não nos esqueçamos as colaborações n' O Comércio do Porto e n' A Capital que marcaram uma etapa.

Como comentador de futebol internacional da Sport TV, Afonso de Melo começava a ter alguma projecção que viria a culminar no Gabinete de Imprensa do Euro 2004. Ao integrar o elenco do gabinete como Media Relations Manager, o jornalista viria a fazer parte de um outro espectro e isso veio a conhecer-se quando de tornou Assessor de Imprensa da Selecção Nacional (2004 a 2006).
Não obstante, na área da comunicação pudemos encontrá-lo como membro da Comissão de Honra e da Comissão Política da Candidatura de Manuel Alegre à Presidência. Um outro elemento que complete o repertório, mas que não o fez desviar do futebol porque cooperou com a Fundação Luís Figo.

Presentemente, Afonso de Melo é jornalista e dedica parte do tempo livre à escrita de obras.

Obras de maior destaque:

Portugal em calções : diário de um jornalista no Mundial (2002)
Doping – A Triste Vida do Super-Homem

Cinco Escudos Azuis – A história da selecção nacional de futebol de 1921 aos nossos dias
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