domingo, 20 de abril de 2008

Júlio Magalhães pelo repórter nos desafios da televisão


Daniel Catalão e Júlio Magalhães

Júlio Magalhães foi, no passado dia 9, o protagonista no painel sobre a televisão do “Milénio da Comunicação”, numa discussão informal em que se frisou que ser jornalista é ser repórter e que a televisão privada vive das audiências.
Com Daniel Catalão, nas intervenções complementares, conseguimos não apenas ter a perspectiva da Televisão Independente, mas também da estação pública (RTP/RTPN).
Júlio Magalhães iniciou o trajecto profissional n’ “O Comércio do Porto” e, tal como Daniel Catalão proferiu, é relevante “percebermos onde é que as pessoas começam, porque, muitas vezes, é fácil olhar para as pessoas na televisão já feitas”. Consciente da realidade que acerca o Porto, Júlio Magalhães elucidou os presentes com uma ideia que, não raras vezes, se concebe: “quem trabalha no Porto tem uma noção diferente do país. Tenho ido a muitos lugares para falar de televisão e nunca recuso, porque as pessoas que trabalham em Lisboa, que são as mais apelativas para toda a gente, não vão a lado nenhum. Acham que o país se resume a Lisboa e quem está no Porto percebe que está em desvantagem e que o resto do país ainda está em maior desvantagem em relação a Lisboa e ao Porto”, reflecte o jornalista.
Numa altura em que “vivemos na era da imagem” muitas pessoas que escolhem o curso de comunicação social fazem-no com a ideia de que esta se circunscreve ao espectro audiovisual e vão “iludidas com o modo como a televisão, hoje, dá espaço e visibilidade às pessoas”, advoga, “escolhem jornalismo não por vocação, não por gostarem, mas porque aparece na televisão”. Esta ideia que transmite no pivô a ideia de jornalista é errónea, de acordo com o profissional da televisão, visto que “ser jornalista não é ser pivô de informação. Ser pivô de informação é só uma variante do jornalismo que nem sequer é a mais importante e a mais motivadora. Ser jornalista é ser repórter”. Para Júlio Magalhães o jornalista “é aquele que anda no terreno, conhece as histórias, conhece as pessoas, que faz reportagem e que conta a histórias das pessoas” e só assim se consegue ser um bom pivô de informação.
A «era da imagem» implica a concorrência e o combate pelas audiências. As televisões trabalham para as audiências e “a TVI trabalha para ter mais audiências”, revela. Como estação privada “tem de ter audiências para ter retorno comercial, para ter publicidade”, até porque se esta não for extraída a estação não se sustenta. Daí que a programação e a informação se oriente consoante as audiências e para as audiências, pois, como salienta Júlio Magalhães “quanto mais público melhor”. Conduzida por estratégias de comunicação, que têm por objectivo captar a atenção dos telespectadores, a TVI passou por várias fases até chegar à televisão que encontramos nos nossos dias. Questões de horário nobre, formas de estruturar a redacção de modo a «chamar gente», designadamente pelos reality shows e pela ficção nacional, culminaram na informação que podemos encontrar no canal quatro generalista.
No entanto, ainda que o público comande a programação ou, pelo menos, se crie essa ilusão, a verdade é que “quem está em casa é que tem de ter a capacidade de dominar a televisão e não de ser dominado por ela”, patenteia Júlio Magalhães, só que essa ideia é, de certa forma, remota no sentido em que “a maioria das pessoas ainda não tem essa capacidade, vai tendo”.
Nesta sequência conseguida entre programação e público, na qual se encontra o jornalista a cargo da intermediação, a estratégia está envolta e “condiciona e tem influência naquilo que é o jornalismo hoje em dia, mas não interfere naquilo que é o profissionalismo e a ética do jornalista”, enfatiza o profissional. Por outras palavras, existem estratégias empresariais e as pessoas que lá trabalham apenas têm de se adaptar “sem com isso violarem aqueles que são os princípios básicos [pessoais]”.
Quase no término da oratória, Júlio Magalhães acaba por confessar que após a apresentação do jornal sente um vazio enorme, pois, como Daniel Catalão comunica, “a única coisa que o pivô faz é vender”. E isso tem como causa o facto de não ser ele a elaborar aquelas reportagens, «limitando-se» apenas a transmiti-las. Contudo, ambos os comunicadores têm a noção de que “o pivô de informação é o vértice da redacção e daí a importância de a valorizar”.
Numa televisão em que o directo é uma fase importante do discurso jornalístico e em que programação e informação estão dependentes uma da outra, o futuro passa por televisões digitais e por novos canais que vão trazer mutações à estrutura actual. Com as oportunidades que a Internet proporciona, até mesmo pela possibilidade de escolha, as pessoas podem seleccionar o que querem ver. Desse modo, “os canais generalistas vão perdendo esta influência [que têm presentemente]; os jornais não vão ser iguais na forma como são feitos; e mesmo os pivôs de informação vão perder, claramente, influência”.
Com um painel dinâmico não só pelo debate de ideias como também pela condução das mesmas estenderam-se sobre a mesa os conceitos, os casos, mas, acima de tudo, a prática jornalística e os desafios prospectáveis numa era em que “o que vai valer é a especificidade da informação e, sobretudo, a imagem e a informação transmitida em reportagem”.

Anabela da Silva Maganinho

Um comentário:

Sara Oliveira disse...

O catalão ficou tão bem-parecido :D :D